quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O céu é azul demais

Andando pela casa e pensando num possível pedido de ajuda.
O calor nem sempre compreende.
Meu único amor, me disse Jimmy, não tem nada a ver com as calçadas. Sabe, Jimmy disse, ouça o que os anúncios dizem "o céu é azul demais", você pode ir até ela durante o dia, mas quando anoitecer você vai querer estar bem longe daquela quentura. Quero dizer, disse Jimmy, aquela garota é muito grande para você cair dela. Entende?
No meio de um cruzamento perto da padaria, que por acaso está fechada hoje, hoje é domingo? O corvo negro não diz.

Jimmy é um velho amigo, é o único cara no mundo que tem um guitarra de 9 cordas, vai saber porque ele precisa de 3 cordas a mais que o resto do mundo que tem guitarras normais. Ele está sempre sozinho, mas às vezes eu vou vistá-lo, porque sabe cara, é preciso ir até o outro lado da cidade vez ou outra. E se uma garota linda não for o motivo, que seja Jimmy que, afinal de contas, tem uma guitarra de nove cordas.

Vá lá, mesmo assim, eu não entendo por que eu sempre fico encarando o muro. E o beijo que eu dei ela disse que nunca ia esquecer, mas com a manhã clara do fim dos dias, ela nem lembra mais o meu verdadeiro nome. Algum mistério é excitante, mas não dá para pensar que ela ainda é a garota com um tatuagem hebraica sonhando comigo, porque caras, na verdade nunca nos encontramos. Quero dizer, eu beijei ela um casal de vezes, e até fomos assistir um filme cheio de dúvidas & pragas, mas nunca no encontramos e ela mudou. Nunca nos encontros e ela mudou, Jimmy diz que, se uma pessoa não luta contra a correnteza vital que no leva a fazer cagadas todos os dias, então essa pessoa está fadada a nunca acontecer. E Jimmy diz isso com uma daquelas vozes engraçadas que ele aprendeu no exército. Da salvação.

Eu gostaria de encontrar ela num jardim bem verde, e dizer na cara da moça que "hey, nos nunca nos encontramos" e depois sair caminhando pelo gramado verdinho com jeito de pasto inglês. Mas ela não é do tipo que se impressiona com grama, pelo menos não com esse tipo de grama, porque ela gosta de fumar erva mesmo, não como o Jimmy que fuma ocasionalmente em reuniões de família & velórios, ela fuma todo o tempo, na faculdade, no trabalho, na cama dela, antes e depois de dormir. Ela é um mistério, e difícil encontrar esse tipo de garota na escuridão da normalidade. Eu gostava da voz dela quando ela me dizia que queria me encontrar, que queria assistir um daqueles filmes com pragas & moças traindo os maridos. Mas agora algo mudou e os cinemas de rua desta cidade viraram igrejas e/ou centros culturais onde se faz aquele tipo de arte, que eles chamam de arte, mas que eu não considero arte, porque para mim arte não é algo que a gente faz em centro comunitários, porque arte de verdade não é para comunidades, é só para individualidades, como é que aquele povo todo reunido comendo pipoca vai conseguir captar os detalhes do diálogo bonito que corre no filme que vimos calados num tarde de Abril? Não, simplesmente não vão entender porque estão reunidos, estão juntos e trocando apertos de mãos, e nós, quando assistíamos aquele filmes, estamos distantes e longe e calados, e nossas mão nem se quisessem poderiam se tocar, porque mesmo tocando-se no espaço entre as poltronas, elas, as mãos, estavam sozinhas.

Bom, Jimmy sabe disso, e por isso nunca foi num sarau ou numa festa junina, mas de vez em quando ele cola no bar onde tocam Blues meio desafinado e até conversa sobre o dedo do Magic Slim ou sobre peitos ou sobre alguma conspiração política da última moda.

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