terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sentir amor sem cessar nas quartas de agosto.


Senti amor sem cessar
Meus olhos cortados à navalha.
Senti amor sem cessar
Meus pulmões com mil litros de pus.
Senti amor sem cessar
O baço deslocado, a pele queimada, os tímpanos perfurados com pregos                 
                                                                                                         Vestidos de ferrugem
Senti amor sem cessar
Pela tua gangrena
Pelos músculos atrofiados
Pelo estiramento
Pelos ossos com rachaduras

Senti amor sem cessar
Escrevi uma carta com as fezes coloridas do doente terminal,
No guache perfumado de animais comestíveis
Atolei os dedos e te escrevi maldições autorizadas
Doces finais de vida, ecos do nosso coito cancerígeno.

Senti amor sem cessar
Porque o verde da sala me lembra de um crocodilo sem patas
As linhas amarelas me indicam o túmulo dos recém nascidos
Um pai morto, por acaso, recitando Stanislavski em Latim Vulgar
A mão de três dedos acariciando a atriz em coma.
Senti amor sem cessar

Senti amor sem cessar.
Senti amor sem cessar.
Senti amor sem cessar.

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